Notas de decepção, e toques de frustração
“Cerveja com chocolate”, “cerveja de mel”, “cerveja com café”... a variedade de ingredientes “encontrados” nas cervejas especiais é enorme! Porém, na maioria das vezes, o sabor que o consumidor descobre após virar um gole é o da decepção. Por que isso acontece?
Para começar, na primeira parte deste tema, iremos corrigir a forma como nos referimos à essas bebidas, que, na maioria dos casos, está errada.
Nem sempre o item descrito como característica do que se irá tomar está literalmente presente no produto. Por isso, dizer, por exemplo, “cerveja com banana” é errado, uma vez que – repito – na maioria dos casos, não foi adicionado à receita nenhum pedaço se quer da fruta.
São raros os casos onde ingredientes fora do “água, malte, leveduras e lúpulo (além de aditivos e conservantes)” são colocados na formula do produto (iremos falar deles mais adiante).
O que comumente encontramos são cervejas com aromas gerados em alguma fase de seus processos, como a fermentação, torrefação de grãos ou o lúpulo usado.
É muito fácil sentir o cheiro que lembre banana e cravo nas famosas cervejas de trigo, porém, o que proporciona essa fragrância é um dos processos da sua fabricação, neste caso, a parte da fermentação – conferida pelos microrganismos conhecidos como “leveduras”, que, dependendo de algumas condições, podem apresentar diferentes nuances, com mais ou menos intensidade.
Outras cervejas apresentam notas que podem variar entre floral e cítrico, que lembram algumas frutas. Esta percepção pode ocorre devido ao tipo de lúpulo usado.
E ainda, é bem comum ouvir as pessoas se confundindo ao dizer que essa ou aquela cerveja é de chocolate, ou que leva café em sua composição. Essas características também são bem fáceis de perceber por serem marcantes, mas, o que ocorre, é que em alguns estilos os grãos que irão produzir a cerveja são torrados. Dentre outras coisas, o grão escolhido, a sua quantidade e o grau da torrefação destes irão determinar se a bebida terá aromas e sabores mais puxados para o caramelo, café ou chocolate.
Outras bebidas também possuem essas peculiaridades. Muitos vinhos dizem ter notas de ameixa, frutas vermelhas, violetas, entre outras.
Boas cachaças podem apresentar toques de frutas secas, anis e baunilha sem levar uma só gota desses condimentos.
Todos esses sabores e essências são conferidos à bebida dependendo da levedura e do tipo da madeira do barril, ou dorna, na qual ela foi armazenada. Até características do solo e da região, onde as matérias primas foram produzidas e colhidas, podem adicionar sensações para o produto.
(não estamos falando, por exemplo da “cachaça de uva”, “cachaça de banana” e afins... leia mais sobre aqui)
Conforme insistimos no início deste artigo, na maioria dos casos ocorre o que descrevemos até agora. Porém, como “na maioria dos casos” não se trata de todos os casos, vamos falar sobre as cervejas que de fato levam ingredientes especiais em suas formulas.
Exemplos de cervejas que de FATO têm adicionais.
Há uma classe de cervejas chamada “Fruit beers”, que pertencem ao estilo da escola cervejeira belga.
Essas brejas são da família “Lambic”, o que significa que sua fermentação fora feita de maneira espontânea, conferindo a elas acidez elevada, mas que é compensada com a adição de frutas (nas versões mais tradicionais) tais como cereja, morango e framboesa, tornando-as bem adocicadas.
Não poderíamos deixar essa publicação sem citar como exemplos as queridinhas do momento: as cervejas da Colorado. Esta cervejaria, até pouco
tempo atrás, era uma dessas artesanais que não se encontravam tão facilmente por aí, porém, com sua marca agora fazendo parte da grande AMBEV, a sua presença em bares e supermercados é constante.
Talvez a mais famosa de sua linha seja a “Appia”, a cerveja de trigo que, de fato, leva mel em sua receita.
Outros exemplares da mesma cervejaria também têm inserido em suas formulas ingredientes que literalmente foram adicionados, como é o caso, do que pode se chamar de linha clássica da Colorado, a “Índica”, “Cauim” e “Demoiselle” . A primeira leva rapadura; a segunda possui mandioca, e, por último, a Demoiselle que contem café.
Um estilo que também está em alta e a “Witbier”: uma breja de trigo mais leve, que por vezes tem raspas de casca de laranja em seu preparo.
“Cerveja com Bacon” - Deus me livre, quem me dera!
Outra ceva que chama atenção, despertando muito interesse em alguns e aversão a outros, é a do estilo Rauchbier.
Esse estilo consiste em uma cerveja que possui o aroma que remete ao bacon ou outra carne defumada.
“- Perai! Estamos falando de brejas que DE FATO levam ingredientes adicionais. Então tem bacon nela?!?!”
- Não, amigX. Aqui vamos falar de um ingrediente comum da cerveja que passa por um processo a mais.
Nesse caso, o malte da cerveja passa por uma defumação, e isso, entre outros detalhes, confere a ela essa característica ímpar, que faz muitos dizerem que a mesma tem sabor de bacon.
Esses são apenas alguns exemplos dentro das brejas que levam ingredientes a mais na receita. Portanto, não se engane. Atente-se para que, ao ler que uma cerveja contem “aromas de banana”, não quer dizer que, obrigatoriamente, há pedaços de bananas dentro de sua garrafa – e muito menos sai dizendo por aí que tomou uma “cerveja DE banana”!
Como Melhorar a sua Percepção?
Com ingredientes adicionados ou não, fato é que, em muitos exemplos, a percepção da característica especial que a bebida tem a oferecer acaba não sendo constatada pelos nossos sentidos.
Isso ocorre porque nosso olfato e paladar não estão treinados para sentir os aromas que geralmente constam nas cervejas, e com isso, não sabemos identifica-los.
Uma maneira de apurar as características e aproveitar a bebida ao máximo é através de uma boa harmonização.
Saber qual cerveja é melhor tomar com aquela carne assada e cheia de condimentos, ou até mesmo uma sobremesa com chocolate ou frutas, pode fazer grande diferença na hora de se perceber a gama de sabores e essências que aquele líquido precioso tem a lhe oferecer!
Atualmente podemos contar com o Wissenbier Institut, uma escola em Sorocaba – que também dá aulas em cidades da região – que, entre muitos cursos do universo cervejeiro, oferece desde introdução ao Mundo das Cervejas Artesanais e Técnicas de Harmonização até temas mais avançados, como Carbonatação e Serviço Cervejeiro e Análise Sensorial e Off Flavours.
Beba com moderação e aproveite o momento
Boas cervejas são feitas com muito cuidado, e por isso, nem sempre elas estão di$poníveis para nós. Por esse motivo, quando temos a oportunidade de degustar uma, conhecimento e atenção são indispensáveis para aproveitar esse momento da melhor maneira possível!
Cheers!
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